domingo, 5 de julho de 2009

Um Lobisomem americano em Peruíbe





Michael Jackson está morto.

Longa vida a este blog, que nasceu agora.


Pois, vocês já sabem, quando o Mala da Lista engata a primeira, é imparável, obsessivo. Interrompe aos berros as mais agradáveis das conversas, "atropelando os presentes, com salivação intensa, o olho rútilo e lábio trêmulo", tal qual descreveria Nelson Rodrigues. Tudo para anunciar que tem mais uma lista. Uma nova lista para sua lista de listas. 


Listas musicais, já vou avisando. Ou intimamente ligadas à música. Fazer o quê, se é o meu assunto preferido? Mas não fuja para o seguinte blogueiro antes de saber que o enfoque aqui não será nada técnico, e se esforçará para se esquivar do previsível. Como ensinou Nick Hornby em “Alta Fidelidade”, estas listas têm que minimamente servir para recapitular um pouco das lembranças pessoais de quem as cria. No meu caso, incluem a fase Daniel pré-Mala da Lista. Claro, claro, os malas das listas também choram, têm fome, ressaca, ficam roucos, suam, gaguejam, sofrem insolação, se excitam, expõem-se ao ridículo. E são amor.



Em sua maioria, elas serão Top 10, mas os Top 5 também terão sua vez, até como homenagem ao Hornby. E sempre direi antes se é um “Os dez ou cinco MELHORES isso, isso e isso”, se é apenas um “Os dez ou cinco isso, isso e isso” ou até se um outro critério foi usado. Haverá Tops em ordem crescente e vice-versa. Subjetivo, opinativo, parcial. Quem quiser xingue, mas as sugestões de listas ou listáveis são muito mais bem-vindas.



Ah, o Michael Jackson. Pois é, esta ideia de blog já vem ocupando meus devaneios há um bom tempo. E quando o enigmático Rei do Pop subiu, moonwalking, aos céus, não deu para adiar mais. Fui correndo escutar “Thriller” e, entre “The Girls is Mine” e a faixa-título, soou um grunhido pavoroso e inédito. Dei rewind três vezes até entender que eram sons ao contrário, entre os quais se podia distinguir uma voz me dizendo: “Mai-koulll Jakzonn eeesss deattt, Mai-koulll Jakzonn eeesss deattt!!!”. Na sequência, desta vez nítido, veio outro brado: “Que empieces este blog de una puta vez”. Não me perguntem porque o contato começou em inglês e acabou em espanhol. Entre as estranhezas de Jacko, imagino, uma delas deve ter sido saber que eu moro em Barcelona. Mas ainda acho que vou tomar satisfações com o departamento pop das mensagens subliminares emitidas ao contrário em álbuns multiplatinados.



Enfim, basta. Conto neste post inaugural, para aquecer, os Top 5 momentos do dia em que Michael Jackson me marcou de forma irreversível. Em ordem cronológica. Poderia falar da ocasião em que presenciei um marmanjo de 120 quilos requebrando, sozinho, ao som de “ABC”, ou de como em onze anos coloquei “Billy Jean” em 95 % das baladas em que discotequei. Mas aquela tarde de vinte e tantos anos atrás ainda está mais fresca em minha lembrança.


1-O cenário



O clipe de “Thriller” estreara na MTV americana no finalzinho de 1983. Então o ano em questão deveria ser 1984, quando este tipo de coisa ainda demorava um pouco para chegar no Brasil. Estava com minha irmã mais velha, a também blogueira Adriana, e meus pais, em Peruíbe, cidade do litoral sul paulista onde morava meu avô, o lituano Petras (Pedrão), e onde acabávamos de comprar uma casa próxima à praia.



A Adri, que tinha no máximo 8 anos, não confirma, mas minha memória arrogante de quem atingira os 5 (esticava todos os dedos de uma mão para mostrá-lo) insiste em que fomos ela, eu e uns amigos a uma espécie de lanchonete/discoteca infanto-juvenil. Sei lá, algo parecido a uma matinê.



O lugar se chamava San Régis, o que àquela altura já me parecia um nome absurdo, de santo apelidado. Régis para mim era apelido de Reginaldo, e portanto assim estavam livres para existir uma Santa Tonha, um São Mané. Ficava a poucas quadras de um boliche homônimo, sua filial.



À frente deste boliche, Pedrão, que já era dono de um restaurante, um dia abriria um fliperama. E eu, que para impressionar os caras mais velhos da rua vivia dizendo que meu avô tinha “quatro kombis, um doberman e um pastor alemão”, enfatizando o detalhe de que uma das peruas havia ardido em chamas, agora poderia anunciar, febril de contentamento: meu avô tem um fliperama.



2-Negro Gato



Mas voltemos ao Michael. Pouco disso tudo importa comparado ao que se passariam nos 13 minutos e 41 segundos seguintes no San Régis, quando um telão me mostrou pela primeira vez o curta-metragem disfarçado em clipe “Thriller”. Já na primeira parte, quando Michael vira lobisomem, me petrifiquei na cadeira, justamente como fazem os atores do vídeo, eles próprios  acompanhando a cena em um cinema.



A metalinguagem e a transformação em lobisomem – o diretor é John Landis, o mesmo de “Um Lobisomem Americano em Londres”, outro ícone de minha infância – eram só o começo da revolução.  Embora reconheça, hoje, que a criatura tinha, na verdade, cara de gato. Um gato negro e bravo e que veste agasalho de universidade americana. Mas gato.



3-Caminho sem volta



A segunda parte, na qual Jackson canta e flerta em círculos com a mocinha bonita, era suave e sorridente, mas criava tensão: o cara estava levando a mina para o cemitério, oras. E enquanto os zumbis, babando um sangue grosso e preto, começavam a deixar suas tumbas ao trovejar da voz de Vincent Price para cercar o casal, a criançada no San Régis, também como observaria Rodrigues, já “uivava” e “cavalgava nas cadeiras”.



4-Black or White. Or Green



De repente, a espinha ainda em crescimento da platéia infantil gelou. Em silêncio, podíamos sentir no ar a vibração de nosso eufórico pânico. A 8 minutos e 26 segundos, a câmera fechava em close sobre o rosto de Michael. Meu deus, ele virara um zumbi. Um zumbi verde, que precisaria morrer na vida real para que eu me desse conta: antes de querer trocar o preto pelo branco, Michael Jackson fora verde.



Devo ter permanecido agarrado à minha irmã, paralisado, pelo mais de um minuto da seguinte coreografia sem vocal, sobre o groove imortal de Jackson e Quincy Jones. Eu preciso e devo fugir dos clichês, então não vou dizer muito sobre o sacolejo sincronizado dos mortos-vivos ser a maior sequências de passos de dança da história, e praticamente a única coreografia que presta no mundo pop. (Com exceção de algumas coisas da Missy Elliott, vá lá.). Por isso prefiro afirmar só que Jacko também era talentoso como ator - sua cara de coisa-ruim no comando da dança é inesquecível.



5-Michael Jackson & Nação Zumbi



Depois de tudo isso e mais a risadinha no final – agora Michael tinha olhos amarelos -, eu nunca mais seria o mesmo. Na volta para nossa casa na Rua 3, aqueles bailarinos putrefatos, principalmente o gordo careca, o babão com pinta de Frankenstein e a loira prima da Smurfette, poderiam surgir em nossa frente a qualquer momento.



Suspeitei, com horror, que eu me tornaria, de uma hora para outra, integrante daquela Nação Zumbi. No transe da excitação e do cagaço, saltei o córrego fedido na rua ao lado. Só dali poderiam emergir os cadáveres reanimados. Ao ritmo de funk eletrônico, eles marchariam à capital pela rodovia Pedro Taques (por anos achei que fosse Pedro Táxi), devorando os miolos das famílias congestionadas. E eu estaria no meio, saciando minha sede infernal com o sangue fresco dos farofeiros e a garapa morna das barracas de pau. Michael Jackson entrara em minha vida para ficar.







6 comentários:

  1. hehehe, dei altas risadas enquanto lia, adorei! Mas vê se escreve pouco, eu preciso estudar tb...
    rs
    Beijo!

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  2. Settão ! você é genial !!! muito classe !!!!

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  3. vida longa ao blog! demorou, né? Pedro Taxi foi gênio. Eu falava meteório até o colegial.

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  4. Yeah! Subiu em moonwalk para os céus é ótimo, hein? Tinhamos que fazer uma animação disso! hahahaha I wanna buy your songs...

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  5. Querido malabarista

    Feliz de quem tem o nome na sua lista.
    Vai a Peruibe, tem 11 anos e ainda vira lobisomi.
    Quero mais...banana split.
    Espero que não pegue essa moda de chamar os filhos de Prince Michael I, Prince Michael II.
    Como será que eles se intitulam?
    Bjs
    Bia

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